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Os dias se desprendem e lançam-se aos ventos como folhas no outono Foto de Dhyamis Kleber no Pexels |
Constantemente nos é dito para aproveitarmos a vida ao máximo, desfrutar do agora, fazer tudo como se não houvesse amanhã: Carpe Diem! Essa é uma expressão latina que faz parte da frase de um escritor romano chamado Horácio (65 a.C - 8 a.C), contida no livro I de Odes: "a carpe diem quam minimum credula postero", podendo ser traduzido como "colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã".
Apesar de ser uma filosofia bastante popular e atraente, ela não é completa, ainda mais se considerarmos o período de pandemia em que vivemos. Como é possível viver ao máximo um dia trancafiado dentro de casa e não se preocupar com o amanhã, sabendo que mais pessoas morrerão e que a vida não normalizará tão cedo? Carpe Diem pode ser um conceito belo em sua teoria mas bastante difícil de ser praticado.
Decidi escrever sobre o assunto pois hoje mesmo fui abatido por uma tristeza profunda. Encontrei minha mente questionando a alegria, como manter a positividade, desvalorizando a mim mesmo e o meu estilo de aproveitar o tempo que me é dado. Não sinto que progredi o suficiente nesses últimos 3 meses e me preocupa mais ainda pensar no porvir, mentalizando a onda de problemas e dificuldades que virão assim que o isolamento social terminar.
Existe, acima disso, um desejo sincero em meu coração de ler a Bíblia e passar o dia em comunhão com Deus. Com toda a certeza, minha meditação é o melhor momento do meu dia pois é nesse momento em que esqueço das preocupações e me concentro apenas na graciosidade e amor do nosso Deus, observando toda a sua atenção e recebendo a sua mensagem.
Contudo, é só esse momento terminar que meu interior volta a se transtornar. Começo a pensar em como tornar o dia eficiente, no devo realizar e terminar, lembrando constantemente que se não o fizer ante do fim do isolamento se tornará muito difícil, praticamente impossível, devido as obrigações da escola. Por que será que existe um contraste tão grande entre os dois períodos? Simplesmente porque não estou praticando o Coram Deo.
Viver para Deus
Coram Deo é uma frase latina que pode ser traduzida como "perante Deus". Seu significado, contudo, é muito mais profundo.
Coram Deo é a essência da vida cristã, o objetivo final que todos nós como filhos de Deus deveríamos ter. A partir da Bíblia sabemos que todo o mundo pertence a Deus e que tudo foi criado com o objetivo de glorificá-lo (Salmos 19:1; 24:1-2). Somos estimulados a confiar também na sua soberania e providência, sabendo da grandiosidade do nosso Senhor (Jeremias 10:6)
Mas como podemos participar dessa glorificação? Será que apenas na leitura bíblica e na oração que glorificamos a Deus? O estilo de vida Coram Deo prega justamente o contrário: Glorificamos a Deus em todas as nossas ações.
O apóstolo Paulo deixou esse pensamento bastante claro na sua carta aos Coríntios:
“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” 1 Coríntios 10.31
Cumpramos ou não nossas metas, aproveitemos ou não ao máximo o nosso dia, façamos tudo para que Deus seja glorificado pois tudo é perda quando comparamos a conhecer a Cristo (Filipenses 3:8) e o conhecer a Cristo e ao Deus verdadeiro é o significado da vida eterna (João 17:8).
Para se aproximar de Deus, a humanidade criou inúmeros obstáculos. Nem todos tem condições de jejuar semanalmente, viver como monges em pleno cotidiano, algo que era comprado há muito tempo atrás pelos rigorosos fariseus e ainda é exigido por alguns líderes religiosos. Não ouça música disso, não coma aquilo, não faça isso tal dia: Será que criar regras e mais regras é entregar nossa vida a Deus?
Um pedreiro que trabalha de segunda a sábado carregando cimento para sustentar a si e a sua família, uma cuidadora que tem que lidar pacientemente com idosos, um estudante que recebe trabalhos toda a semana para cumprir sua média nas matérias, todos esses glorificam a Deus. Lidam diariamente com o estresse diário e podem não aproveitar o dia como as pessoas "livres" pregam mas ainda assim glorificam ao Senhor em seus trabalhos honestos e aparentemente não relacionados ao mundo espiritual caso decidam dedicar seus passos a Deus, vivendo sempre na sua presença mesmo quando distantes da Bíblia e da oração
Sejamos assim. Em quarentena ou não, ainda que não estejamos extraindo o melhor do dia nos padrões comuns, estaremos sempre vivendo para a glória de nosso Deus a cada passo que dermos, sendo este o propósito final de nossa vida como seres humanos criados a sua imagem e semelhança.
Não considere o dia perdido se você pôde viver para a exaltação do nosso Senhor.
Graça e paz a todos vocês,
Luigi Bonvenuto
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